domingo, 26 de abril de 2015

UM MARIDO SOZINHO EM CASA


E-MAIL DE UM MARIDO SOZINHO EM CASA

Querida, está tudo em ordem, depois que você viajou.

Estou preparando meu próprio almoço. Está dando tudo certo.

Ontem fiz batata frita. Ficou bom. 
  
Era preciso descascar a batata? 
  
Fui buscar uns brioches na padaria e quando voltei o esmalte da

frigideira tinha soltado e ela estava toda derretida, inclusive o cabo. E

você que me dizia que o teflon segurava qualquer coisa... 
  
Quanto tempo precisa para cozinhar ovos? 
  
Já os deixei fervendo lá por duas horas, mas continuam duros que nem

pedra. 

  
Bom vou aguardar um pouco mais... 
  
Semana passada tive um contratempo, cozinhando as ervilhas. 
  
Decidi esquentar a lata no microondas e ele explodiu. 
  
A lata decolou feito um foguete, atravessou o teto e acertou a filha do

seu Freitas, nosso vizinho de cima. Ela foi parar no pronto-socorro. 
  
Ainda bem que eles tinham plano de saúde. 
  
Já aconteceu contigo de a louça suja criar mofo? 
  
Como é possível isso acontecer em tão pouco tempo? 
  
Aliás, atrás da pia tem de tudo que é bicho, daqui a pouco vai dar para

fazer um documentário e vender para o National Geographic. 
  
Durante o último almoço, eu emporcalhei o tapete persa com molho de

tomate. Você sempre me dizia que mancha de molho de tomate não

sai. 
  
Bobinha! Com um pouco de querosene não tive problema algum. Saiu

tudinho, inclusive a cor do tapete. 
  
A geladeira estava criando muito gelo, então tive que fazer um defrost 

nela. 
  
O gelo sai fácil, se você raspá-lo com uma espátula de pedreiro! 
  
Ficou ótimo, foi fácil e rápido; agora, a geladeira, não sei por que, está

aquecendo. De toda forma, a carne ficou bem passada. 
  
No mais, na última quinta-feira, quando saí para o trabalho, esqueci de

trancar a porta. 
  
Alguém deve ter invadido nosso apartamento, porque estão faltando

alguns objetos de valor, inclusive aquele colar de marfim que seu

bisavô trouxe da África.
  
Mas como você sempre diz, o dinheiro não traz felicidade, e tudo que é

material é efêmero. 
  
O seu guarda-roupa também está vazio, mas acho que não devem ter

levado muita coisa, afinal você sempre diz que nunca tem nada para

vestir. 
  
Beijos mil, com muito carinho, do seu querido Afonso. 

  
PS: 

Sua mãe deu uma passada aqui pra ver como estavam as coisas. 
  
Sofreu um infarto. 
  
O velório foi ontem à tarde, mas preferi não te contar, para não

te aborrecer à toa. 
  
Volte logo, estou com saudades... 



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