OS
CLICHÊS NO CINEMA (extraído do livro Cinema-Arte, Cultura,
História, disponível em formato e-book na Amazon.com)
Antigamente,
brincávamos com os títulos de filmes célebres, rebatizando-os com
nomes jocosos como O
fantópera da asma,
O
cordame de Notre Cunda,
O
morro dos uivos ventantes,
Levaca
da Breda
etc. Um humor ingênuo, que combinava com o espírito irreverente,
alegre e gozador de nosso povo. Bons tempos e tempos de bons filmes.
De
lá para cá, as coisas foram se modernizando e o lado comercial das
produções foi-se valorizando. O que constituía sucesso de público
começava a ser copiado. Surgiu o clichê ou lugar-comum, que,
segundo o Aurélio, é “fórmula, argumento ou ideia já muito
conhecida e repisada; coisa trivial; trivialidade. Sinônimo:
chavão”. E, no cinema atual, na maioria das vezes, pontifica a
célebre frase-chavão do Chacrinha: “nada se cria, tudo se copia”.
Mas um determinado tipo de público gosta. E, enquanto alguém
estiver gostando, os produtores usam e abusam dos clichês. Há até
ingredientes quase obrigatórios nos filmes modernos, como explosões,
nudez, sexo, violência e perseguições de carros, com efeitos
especiais mirabolantes. A mesmice começa a imperar.
Para
dar uma ideia de como a coisa está funcionando, relacionamos alguns
dos mais manjadíssimos clichês, que já estamos cansados de ver:
–Bomba
deixada pelo vilão só é desarmada no último segundo;
–O
vilão tem o trabalho de montar a bomba com fios de cores diferentes
e com relógio de tempo, para facilitar o trabalho do herói;
–O
herói ou o vilão só ligam a TV na hora exata em que é dada a
notícia que lhes interessa; logo após, a desligam;
–Toda
luta de espada sempre tem um momento em que os contendores ficam cara
a cara, com as espadas cruzadas, e dizem gracinhas um para o outro;
–O
carro em que a vítima pretende fugir do monstro nunca pega de
primeira;
–Quando
um carro avança em alta velocidade por uma rua ou calçada cheia de
pedestres, não atinge ninguém, devido à extraordinária agilidade
e reflexo das pessoas; mas sempre derruba hidrantes, carrocinhas de
ambulantes e cestas de lixo;
–Sistemas
de defesa com raios laser cruzados são sempre burlados por
assaltantes que entram pelo teto;
–Nos
filmes policiais, o investigador sempre vai a um inferninho que tem
strip-tease;
–O
chefe de polícia geralmente é um negro durão;
–Cartões
de crédito e grampos abrem fechaduras;
–Cofres
são abertos com uso de estetoscópio;
–Uma
pessoa fugindo de alguém sempre tropeça e cai;
–Há
sempre vaga para o carro do herói na cidade, bem em frente aonde ele
quer ir;
–Os
carros devem ser automáticos, pois ninguém tira a mão da direção
para passar as marchas;
–Garotos
de 10/11 anos que usam óculos são gênios no computador e penetram
nos mais fechados sistemas, mas ninguém usa a barra de espaços para
digitar;
–Alguém
prestes a morrer fala algumas coisas e morre exatamente na hora em
que iria revelar o nome do assassino;
–Soldados
que revelam sonhos e esperanças aos companheiros de guerra são os
primeiros a morrer;
–O
parto é sempre natural; nada de cesariana; bebês nascem limpinhos,
com o tamanho de dois meses;
–Policiais
só solucionam casos após serem suspensos pelo chefe durão, que
está sempre receoso da reação do prefeito da cidade, se “aquele”
caso não for solucionado;
–As
prisões sempre têm um guarda sádico e cruel que atormenta a vida
dos presos e que no final se dá mal;
–Ninguém
se limpa após fazer sexo; os lençóis são em forma de L: cobrem os
seios da mulher e deixam nu o peito do homem; e a mulher, após um
sexo selvagem, procura se cobrir imediatamente;
–O
preço da corrida de táxi é sempre uma nota tirada ao acaso da
carteira, e nunca há troco;
–Todas
as casas têm telefone ao lado da cama, que tocam de madrugada para
chamar o tira para o serviço; –O herói sempre pensa que já matou
o vilão e dá as costas para ele, a fim de confortar a namorada; mas
o vilão nunca morre de primeira e volta a atacá-lo. Ele, mesmo de
costas, “pressente” a ação do vilão, vira-se e o liquida,
agora sim, de vez;
–O
vilão, em vez de matar logo o herói em seu poder, explica-lhe tudo
o que pretende fazer e coloca-o numa complicada máquina de morte que
nunca funciona;
–Armas
de fogo são descartáveis: após ficarem sem munição, são jogadas
fora;
–Em
vez de ligarem o interruptor e iluminar tudo, os heróis preferem
usar lanterna em locais perigosíssimos;
–A
porta da casa mal-assombrada sempre fecha sozinha;
–Mais
de 20 bandidos atirando no herói não conseguem acertá-lo, mas ele
consegue liquidar todos com sua certeira pontaria; por sua vez, os
inimigos lutadores de artes marciais à sua volta esperam para
atacá-lo, um de cada vez;
–Edifícios
têm sistema de ventilação total, ideal para alguém se esconder e
alcançar qualquer aposento;
–Detetive
e mulher esperta brigam o tempo todo, mas ficam juntos no final;
–O
café da manhã é gordo, com ovos e bacon, mas os membros da família
são magros; após o desjejum, ninguém escova os dentes, saindo
apressadamente;
–Os
maltrapilhos camponeses medievais têm os dentes perfeitos;
–No
cinema americano, o vilão é sempre estrangeiro: nos anos 1940/1950,
alemães; nos anos 1960/1970, asiáticos; 1970/1980, soviéticos; a
partir de 1990, terroristas do Oriente Médio;
–O
herói ferido a tiro no ombro continua a usar o braço; na perna,
corre feito uma gazela;
–Carros
numa perseguição são indestrutíveis. Batem de todo jeito, quebram
obstáculos e não param;
–Medalhas,
moedas ou isqueiros de metal no bolso da camisa bloqueiam tiros e
salvam a vida do herói;
–Portas
trancadas são arrombadas no primeiro pontapé;
–A
caravana de carros da polícia só chega quando o herói já resolveu
tudo sozinho;
–O
dinheiro do roubo cabe certinho na maleta e não sobra espaço vazio;
–Havendo
vidraça numa luta, alguém deverá ser arremessado através dela;
–Garotas
de óculos e cabelo preso nunca conseguem um par para o baile da
faculdade;
–Um
policial é sempre o oposto de seu colega de dupla;
–As
chamas de uma explosão nunca alcançam o herói, que sempre se joga
em direção à câmera;
–Depois
de apanhar muito e estar arrasadoramente abatido, o herói ainda
consegue reunir forças e dar uma surra no bandido;
–Quando
o bandido escapa, sempre aparece um táxi, na hora, onde o mocinho
entra e diz: ”Siga aquele carro”.
Vou
ficar por aqui. Existem muito mais clichês, mas estes já dão uma
ideia do que está acontecendo em várias produções comerciais.
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