sábado, 18 de abril de 2015

OS CLICHÊS NO CINEMA

OS CLICHÊS NO CINEMA (extraído do livro Cinema-Arte, Cultura, História, disponível em formato e-book na Amazon.com)

Antigamente, brincávamos com os títulos de filmes célebres, rebatizando-os com nomes jocosos como O fantópera da asma, O cordame de Notre Cunda, O morro dos uivos ventantes, Levaca da Breda etc. Um humor ingênuo, que combinava com o espírito irreverente, alegre e gozador de nosso povo. Bons tempos e tempos de bons filmes.
De lá para cá, as coisas foram se modernizando e o lado comercial das produções foi-se valorizando. O que constituía sucesso de público começava a ser copiado. Surgiu o clichê ou lugar-comum, que, segundo o Aurélio, é “fórmula, argumento ou ideia já muito conhecida e repisada; coisa trivial; trivialidade. Sinônimo: chavão”. E, no cinema atual, na maioria das vezes, pontifica a célebre frase-chavão do Chacrinha: “nada se cria, tudo se copia”. Mas um determinado tipo de público gosta. E, enquanto alguém estiver gostando, os produtores usam e abusam dos clichês. Há até ingredientes quase obrigatórios nos filmes modernos, como explosões, nudez, sexo, violência e perseguições de carros, com efeitos especiais mirabolantes. A mesmice começa a imperar.
Para dar uma ideia de como a coisa está funcionando, relacionamos alguns dos mais manjadíssimos clichês, que já estamos cansados de ver:
Bomba deixada pelo vilão só é desarmada no último segundo;
O vilão tem o trabalho de montar a bomba com fios de cores diferentes e com relógio de tempo, para facilitar o trabalho do herói;
O herói ou o vilão só ligam a TV na hora exata em que é dada a notícia que lhes interessa; logo após, a desligam;
Toda luta de espada sempre tem um momento em que os contendores ficam cara a cara, com as espadas cruzadas, e dizem gracinhas um para o outro;
O carro em que a vítima pretende fugir do monstro nunca pega de primeira;
Quando um carro avança em alta velocidade por uma rua ou calçada cheia de pedestres, não atinge ninguém, devido à extraordinária agilidade e reflexo das pessoas; mas sempre derruba hidrantes, carrocinhas de ambulantes e cestas de lixo;
Sistemas de defesa com raios laser cruzados são sempre burlados por assaltantes que entram pelo teto;
Nos filmes policiais, o investigador sempre vai a um inferninho que tem strip-tease;
O chefe de polícia geralmente é um negro durão;
Cartões de crédito e grampos abrem fechaduras;
Cofres são abertos com uso de estetoscópio;
Uma pessoa fugindo de alguém sempre tropeça e cai;
Há sempre vaga para o carro do herói na cidade, bem em frente aonde ele quer ir;
Os carros devem ser automáticos, pois ninguém tira a mão da direção para passar as marchas;
Garotos de 10/11 anos que usam óculos são gênios no computador e penetram nos mais fechados sistemas, mas ninguém usa a barra de espaços para digitar;
Alguém prestes a morrer fala algumas coisas e morre exatamente na hora em que iria revelar o nome do assassino;
Soldados que revelam sonhos e esperanças aos companheiros de guerra são os primeiros a morrer;
O parto é sempre natural; nada de cesariana; bebês nascem limpinhos, com o tamanho de dois meses;
Policiais só solucionam casos após serem suspensos pelo chefe durão, que está sempre receoso da reação do prefeito da cidade, se “aquele” caso não for solucionado;
As prisões sempre têm um guarda sádico e cruel que atormenta a vida dos presos e que no final se dá mal;
Ninguém se limpa após fazer sexo; os lençóis são em forma de L: cobrem os seios da mulher e deixam nu o peito do homem; e a mulher, após um sexo selvagem, procura se cobrir imediatamente;
O preço da corrida de táxi é sempre uma nota tirada ao acaso da carteira, e nunca há troco;
Todas as casas têm telefone ao lado da cama, que tocam de madrugada para chamar o tira para o serviço; –O herói sempre pensa que já matou o vilão e dá as costas para ele, a fim de confortar a namorada; mas o vilão nunca morre de primeira e volta a atacá-lo. Ele, mesmo de costas, “pressente” a ação do vilão, vira-se e o liquida, agora sim, de vez;
O vilão, em vez de matar logo o herói em seu poder, explica-lhe tudo o que pretende fazer e coloca-o numa complicada máquina de morte que nunca funciona;
Armas de fogo são descartáveis: após ficarem sem munição, são jogadas fora;
Em vez de ligarem o interruptor e iluminar tudo, os heróis preferem usar lanterna em locais perigosíssimos;
A porta da casa mal-assombrada sempre fecha sozinha;
Mais de 20 bandidos atirando no herói não conseguem acertá-lo, mas ele consegue liquidar todos com sua certeira pontaria; por sua vez, os inimigos lutadores de artes marciais à sua volta esperam para atacá-lo, um de cada vez;
Edifícios têm sistema de ventilação total, ideal para alguém se esconder e alcançar qualquer aposento;
Detetive e mulher esperta brigam o tempo todo, mas ficam juntos no final;
O café da manhã é gordo, com ovos e bacon, mas os membros da família são magros; após o desjejum, ninguém escova os dentes, saindo apressadamente;
Os maltrapilhos camponeses medievais têm os dentes perfeitos;
No cinema americano, o vilão é sempre estrangeiro: nos anos 1940/1950, alemães; nos anos 1960/1970, asiáticos; 1970/1980, soviéticos; a partir de 1990, terroristas do Oriente Médio;
O herói ferido a tiro no ombro continua a usar o braço; na perna, corre feito uma gazela;
Carros numa perseguição são indestrutíveis. Batem de todo jeito, quebram obstáculos e não param;
Medalhas, moedas ou isqueiros de metal no bolso da camisa bloqueiam tiros e salvam a vida do herói;
Portas trancadas são arrombadas no primeiro pontapé;
A caravana de carros da polícia só chega quando o herói já resolveu tudo sozinho;
O dinheiro do roubo cabe certinho na maleta e não sobra espaço vazio;
Havendo vidraça numa luta, alguém deverá ser arremessado através dela;
Garotas de óculos e cabelo preso nunca conseguem um par para o baile da faculdade;
Um policial é sempre o oposto de seu colega de dupla;
As chamas de uma explosão nunca alcançam o herói, que sempre se joga em direção à câmera;
Depois de apanhar muito e estar arrasadoramente abatido, o herói ainda consegue reunir forças e dar uma surra no bandido;
Quando o bandido escapa, sempre aparece um táxi, na hora, onde o mocinho entra e diz: ”Siga aquele carro”.

Vou ficar por aqui. Existem muito mais clichês, mas estes já dão uma ideia do que está acontecendo em várias produções comerciais. 

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