MELHORES FILMES
DA DÉCADA DE 1970
Nos
anos 1970, já começa a ficar mais difícil para o cinéfilo
exigente (e inteligente) a tarefa de selecionar obras
cinematográficas dignas de serem assistidas.
Com os filmes excepcionais rareando, à medida que os anos passam, o
mercado é entulhado, cada vez mais, por filmes “bonzinhos” (a
maior parte dos EUA), engajados no lucro comercial, sem grande
preocupação com a profundidade dos temas, funcionando apenas como
passatempo despretensioso. Mas nem tudo estava perdido: alguns
cineastas, notadamente na Europa, realizaram obras mais apuradas e
profundas, abordando temas de grande interesse para o público.
Entretanto, tivemos, nos EUA, filmes um pouco acima da média, já
comentados em outros artigos: –O
poderoso chefão 1 e 2
(1972/1974) e Apocalypse
now
(1979), de Francis Ford Coppola; –Tubarão
(1975) e Contatos
imediatos de terceiro grau
(1977), de Steven Spielberg; –M.A.S.H.
(1970) e Nashville
(1975), de Robert Altman; –Um
estranho no ninho
(1975), de Milos Forman; –Chinatown
(1974), de Roman Polanski; –Cabaret
(1972), de Bob Fosse; –O
expresso da meia-noite
(1978), de Alan Parker; –Alien,
o oitavo passageiro
(1979), de Ridley Scott; –Guerra
nas estrelas
(1977), de George Lucas e, ainda, A
conversação
(1974), de Francis Ford Coppola, em que um perito em grampear
telefones entra em crise quando descobre que seu trabalho está a
serviço de uma trama criminosa (ganhou a Palma de Ouro em Cannes).
Dos
filmes europeus, cada vez mais apreciados nestas plagas, destacamos
os seguintes:
–O
homem de mármore
(Polônia, 1976), de Andrzej Wajda – Refletindo o clima de
inquietação da sociedade polonesa, o filme faz parte do início da
corrente contestatória que culminaria com a união dos sindicatos do
país, formando o Solidariedade, em 22 de setembro de 1980. A obra
coloca o stalinismo em questão, ao abordar o tema da realização de
um documentário sobre um heroico operário que foi posto em segundo
plano com o degelo;
–Solaris
(URSS, 1972), de Andrei Tarkovsky – Não se enquadrando na estética
oficial soviética (calcada no realismo socialista), é um filme de
ficção científica perturbador, que trata da ida de um psicólogo a
uma estação orbital da URSS, para verificar a incidência de
alucinações que estavam levando alguns tripulantes ao suicídio ou
à morte;
–O
jardim dos Finzi-Contini
(Itália, 1971), de Vittorio de Sica – Durante a II Guerra Mundial,
família aristocrata de judeus italianos ignora a ameaça dos campos
de concentração fascistas e a perseguição aos membros de sua
raça, passando por situações que não previra. Oscar de melhor
filme estrangeiro;
–Amarcord
(Itália, 1973), de Federico Fellini – Amarcord (“eu me lembro”,
em dialeto romagnol) é uma crônica onírica e nostálgica de uma
pequena cidade italiana na década de 1930; relato autobiográfico
que revela o cotidiano familiar, o despertar da sexualidade e a
ascensão do fascismo. Oscar de melhor filme estrangeiro;
–O
discreto charme da burguesia
(França/Espanha/Itália, 1972), de Luis Buñuel – Obra surrealista
que confunde sonho com realidade, caracteriza-se como uma crítica
social audaciosa e uma sátira às convenções burguesas;
–Um
dia muito especial
(Itália, 1977), de Ettore Scola – Filme intimista, mostra o
encontro, em 1938, no dia em que Hitler visitava Roma, de um
radialista demitido por ser homossexual (Marcello Mastroianni) e sua
vizinha, uma esposa infeliz (Sophia Loren). Expõe a repressão e a
massificação de ideias por parte do governo fascista italiano na
época;
–Giordano
Bruno
(Itália, 1973), de Giuliano Montaldo – Impressionante
reconstituição da vida do filósofo, astrônomo e matemático
Giordano Bruno (1548-1600), que, influenciado por Nicolau de Cusa e
Copérnico, desenvolveu sua teoria do universo infinito e da
multiplicidade dos mundos, o que implicou em negar a ideia teológica
da Criação. Julgado pela Inquisição, foi torturado e queimado
vivo, em fevereiro de 1600;
–O
tambor
(Alemanha, 1979), de Volker Schlöndorff – Magnífica crítica
político-social. O garoto que se recusa a crescer, depois de os
nazistas tomarem o poder na Alemanha, e seu protesto, batendo com
vigor num tambor, sempre que algo dava errado em sua vida. Ganhou o
Oscar de melhor filme estrangeiro e compartilhou, com Apocalypse
now,
a Palma de Ouro em Cannes;
–1900
(Itália/França/Alemanha, 1977), de Bernardo Bertolucci – Filme
com 234min, um grandioso painel sobre a história da Itália no
século XX; a batalha entre a esquerda e o movimento fascista;
–O
dia do Chacal
(Inglaterra, 1973), de Fred Zinnemann – Adaptação correta do
romance de Frederick Forsyth, a história da tentativa de assassinato
do general Charles de Gaulle por elemento contratado por grupos da
extrema direita;
–O
amigo americano
(Alemanha/França, 1977), de Wim Wenders – Um dos melhores filmes
de Wenders. Homem pacato, portador de doença incurável, é
procurado por francês que lhe faz uma estranha proposta: matar
perigoso mafioso em troca de 250 mil marcos. Tensão o tempo todo;
–O
enigma de Kaspar Hauser
(Alemanha, 1975), de Werner Herzog – Garoto criado em um porão até
seus 18 anos é levado para a cidade e estranha a nova realidade.
Filme baseado em fato real. O título original é Jeder
fur sich und Gott gegen alle,
cuja tradução é “Cada um por si e Deus contra todos”. Tivemos,
ainda, na década, dois bons e hilariantes filmes do grupo inglês
Monty Python:
-A
vida de Brian
(1979) e Monty
Python - Em busca do cálice sagrado
(1975).
O
Japão também deu sua contribuição, com: –Dodeskaden
– O caminho da vida
(1970) e Derzu
Uzala
(1975), ambos de Akira Kurosawa. A década de 1970 foi, ainda, a
época de filmes polêmicos, como: –O
último tango em Paris
(Fra/Ita/EUA, 1972), de Bernardo Bertolucci; –As
mil e uma noites
(Itália, 1974), de Pier Paolo Pasolini; –O
império dos sentidos
(Japão, 1976), de Nagisa Oshima.
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