quinta-feira, 5 de novembro de 2015

ESTA VIDA NÃO ESTÁ SOPA

ESTA VIDA NÃO ESTÁ SOPA

Carnaval chega, vai embora, e voltamos à mesmice, nesta cidade maravilhosa, cheia de engarrafamentos mil, coração do meu Brasil:
A jardineira não está mais tão triste; agora, recebe o bolsa família. Na política, tem gente torcendo para a Camélia cair do galho, a fim de que possam colocar o retrato do velho outra vez no mesmo lugar; o velho, agora milionário junto com seus filhos, na porta da Colombo e na articulação política, continua um assombro, não sabendo de nada e vivendo cantando: “Só não quero que me falte... a danada da cachaça”; “garrafa cheia eu não quero ver sobrar”. Pois é, todo mundo bebe, mas ninguém dorme no ponto; e a turma lá de trás gritou: chi, tem nego bebo aí, tem nego bebo aí.
A Camélia está dizendo: “Daqui não saio, daqui ninguém me tira”, enquanto o paulista diz: “Ô abre alas, que eu quero passar”; e o mineiro acrescenta: “Sessaporra não virar, olê, olê, olá, eu chego lá”. É isso: quem não chora não mama, mas o velho está doido para cantar: voltei, aqui é meu lugar, minha emoção é grande, a saudade era maior, e voltei para ficar...
Índio não quer mais apito, quer comissão e terras de graça.
Alalaô, de cara queimada, pede água para Ioiô e Iaiá, e. neste clima saariano, todo mundo querendo um lindo apartamento, com porteiro e elevador, e ar refrigerado para os dias de calor, em regime semiaberto.
A viúva, o brotinho e a madame seguem saçaricando (seja lá o que isso signifique); aliás, quem não tem seu saçarico saçarica mesmo só (é o tal do prazer solitário).
Mulata bossa-nova não cai mais no hully gully; agora é no pancadão.
A cabeleira do Zezé foi cortada na Papuda; agora, ele canta para o velho amigo: não se perca de mim, não se esqueça de mim, não desapareça... e o velho diz: cai, cai, cai, eu não vou te levantar, cai, cai, cai, quem mandou escorregar?
Garis disseram: “Ei, você aí, me dá um dinheiro aí”. Enquanto o prefeito não deu, eles fizeram a “grande confusão”. Tudo continua confuso no país: tá caro tudo; nós é que bebemos, e eles é que ficam tontos. Tem nego bebo aí. Escorregaram na roupa da Chiquita Bacana, aquela lá da Martinica. A canoa virou, deixaram virar; e o cordão dos puxa-saco cada vez aumenta mais.
Este ano não vai ser igual àquele que passou, eu não brinquei, você também não brincou, pois, nesse palco iluminado, só dá lalau.
Tudo na mesma: a mesma praça, o mesmo banco, as mesmas flores, o mesmo jardim; É ou não é piada de salão? Quero chorar, não tenho lágrimas, que me rolem na face, pra me socorrer.
E a vida segue, com mais de mil palhaços no salão.

Um abraço do Nelson Barboza.

Na bola, no samba, na sola, no salto,
Lá vem o Brasil descendo a ladeira...




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