ESTA
VIDA NÃO ESTÁ SOPA
Carnaval
chega, vai embora, e voltamos à mesmice, nesta cidade maravilhosa,
cheia de engarrafamentos mil, coração do meu Brasil:
A
jardineira não está mais tão triste; agora, recebe o bolsa
família. Na política, tem gente torcendo para a Camélia cair do
galho, a fim de que possam colocar o retrato do velho outra vez no
mesmo lugar; o velho, agora milionário junto com seus filhos, na
porta da Colombo e na articulação política, continua um assombro,
não sabendo de nada e vivendo cantando: “Só não quero que me
falte... a danada da cachaça”; “garrafa cheia eu não quero ver
sobrar”. Pois é, todo mundo bebe, mas ninguém dorme no ponto; e a
turma lá de trás gritou: chi, tem nego bebo aí, tem nego bebo aí.
A
Camélia está dizendo: “Daqui não saio, daqui ninguém me tira”,
enquanto o paulista diz: “Ô abre alas, que eu quero passar”; e o
mineiro acrescenta: “Sessaporra não virar, olê, olê, olá, eu
chego lá”. É isso: quem não chora não mama, mas o velho está
doido para cantar: voltei, aqui é meu lugar, minha emoção é
grande, a saudade era maior, e voltei para ficar...
Índio
não quer mais apito, quer comissão e terras de graça.
Alalaô,
de cara queimada, pede água para Ioiô e Iaiá, e. neste clima
saariano, todo mundo querendo um lindo apartamento, com porteiro e
elevador, e ar refrigerado para os dias de calor, em regime
semiaberto.
A
viúva, o brotinho e a madame seguem saçaricando (seja lá o que
isso signifique); aliás, quem não tem seu saçarico saçarica mesmo
só (é o tal do prazer solitário).
Mulata
bossa-nova não cai mais no hully gully; agora é no pancadão.
A
cabeleira do Zezé foi cortada na Papuda; agora, ele canta para o
velho amigo: não se perca de mim, não se esqueça de mim, não
desapareça... e o velho diz: cai, cai, cai, eu não vou te levantar,
cai, cai, cai, quem mandou escorregar?
Garis
disseram: “Ei, você aí, me dá um dinheiro aí”. Enquanto o
prefeito não deu, eles fizeram a “grande confusão”. Tudo
continua confuso no país: tá caro tudo; nós é que bebemos, e eles
é que ficam tontos. Tem nego bebo aí. Escorregaram na roupa da
Chiquita Bacana, aquela lá da Martinica. A canoa virou, deixaram
virar; e o cordão dos puxa-saco cada vez aumenta mais.
Este
ano não vai ser igual àquele que passou, eu não brinquei, você
também não brincou, pois, nesse palco iluminado, só dá lalau.
Tudo
na mesma: a mesma praça, o mesmo banco, as mesmas flores, o mesmo
jardim; É ou não é piada de salão? Quero chorar, não tenho
lágrimas, que me rolem na face, pra me socorrer.
E
a vida segue, com mais de mil palhaços no salão.
Um
abraço do Nelson Barboza.
Na
bola, no samba, na sola, no salto,
Lá
vem o Brasil descendo a ladeira...